Lisboa e Rio, mesma língua, passado comum, realidades opostas.

O Brasil tem 17 cidades com mais de um milhão de habitantes. Lisboa, a maior cidade portuguesa tem apenas 530.000 habitantes. Enquanto o Brasil tem uma enorme população urbana flutuante que precisa de se deslocar diariamente da periferia para o centro, Portugal apenas tem essa necessidade em pequena escala em Lisboa e no Porto e possui uma rede relativamente eficaz e profusa de transportes públicos.
É de prever que Portugal, impulsionado pelos muitos milhões provenientes da União Europeia, consiga rapidamente relançar a vida no país e nas suas cidades com o que aprendeu neste período pandémico: mais ciclovias e vias verdes, mais espaço ajardinado e público, menos trânsito automóvel, mais frequência no transporte público elétrico e não poluente, melhores e mais hospitais (o número de UCIs disponíveis duplicou no país desde o início da pandemia). O Brasil, porém, conta com algumas vantagens que a sua grande dimensão proporcionam. O primeiro semestre de 2021 registou a maior coleta fiscal da sua história o que significa que milhões de brasileiros voltaram à atividade com enorme vigor.
Com a vacinação, as cidades brasileiras em breve retomarão o seu ritmo frenético, sem grandes diferenças relativamente à realidade anterior embora desperdiçando uma oportunidade de ouro para resolver as suas carências estruturais – no transporte, na sanidade básica, na educação e na saúde. O problema não será dinheiro, como é bem patente na situação fiscal, antes a dinâmica sócio-política do país. As clivagens históricas do Brasil, bem patentes nas suas cidades – a enorme desigualdade económica, as tensões religiosas, culturais e raciais, a iliteracia que permite o abuso e descaso continuados – continuarão a marcar o país e as suas cidades no futuro próximo. Mas o Brasil fará a sua reflexão.
O Sistema Único de Saúde ganhará peso nas decisões políticas. Espera-se que a tecnocracia e a competência ganhem força entre os políticos eleitos, e que os populismos de qualquer quadrante entrem em declínio. Cerca de 87% dos brasileiros vivem em cidades, mais do que os 61% de Portugal. O coração do Brasil está e estará sempre nas suas grandes cidades. Não assim em Portugal, sempre saudoso do seu passado rural.
Ricardo Monteiro Consejero Global de LLYC

